quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Políticas afirmativas na pós-graduação: Considerações sobre um novo desafio para luta pela inclusão

Na ADPF 186 (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental), sobre a constitucionalidade das cotas na UnB, o Ministro Relator da matéria, Ricardo Lewandowski, em seu voto, diz o seguinte:


“Como é de conhecimento geral, o reduzido número de negros e
pardos que exercem cargos ou funções de relevo em nossa sociedade, seja
na esfera pública, seja na privada, resulta da discriminação histórica que
as sucessivas gerações de pessoas pertencentes a esses grupos têm
sofrido, ainda que na maior parte das vezes de forma camuflada ou
implícita.

Os programas de ação afirmativa em sociedades em que isso ocorre,
entre as quais a nossa, são uma forma de compensar essa discriminação,
culturalmente arraigada, não raro, praticada de forma inconsciente e à
sombra de um Estado complacente”.

Pleno - Julgamento da ADPF 186 sobre a política de cotas na UnB


Esse trecho deixa evidente que o Ministro se referia não somente a um programa de ação afirmativa específico, como a mídia tradicional faz acreditar, e sim a todos os programas que vierem a ser criados a fim de reduzir as desigualdades, principalmente no que se refere aos grupos socialmente excluídos. Dentro desta perspectiva o movimento negro, enquanto sociedade civil organizada, tem se articulado para conquistar espaços no serviço público federal, apontando falhas na lógica “meritocrática” dos concursos e na dificuldade que este apresenta para o acesso dos grupos socialmente desfavorecidos, visto que hoje os concursos são disputados quase que totalmente pelos chamados “concurseiros”, que podem se dedicar, quase que exclusivamente, ao longo de anos, aos estudos e consequentemente à aprovação. Em termos gerais, que mérito há em alguém que é, muitas vezes, socialmente privilegiado, financiado e treinado para passar em uma prova de concurso público? No Estatuto da Igualdade Racial, de 2010, temos, em seu artigo segundo, o seguinte:


Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiosos e culturais.


Dessa forma, amparado pelo estatuto, o ministro Lewandowski, em seu voto, se refere não só ao serviço público mas também à iniciativa privada. Hoje é de conhecimento que algumas empresas já aplicam programas de ações afirmativas na contratação de seus funcionários, mostrando o caráter educativo da lei de cotas, que em nossa leitura, altera significativamente a percepção da sociedade quanto à discriminação.

A luta por ações afirmativas no serviço público é válida e legítima, e o movimento social negro tem pressionado o poder público nesse sentido. Hoje tramita no congresso, em caráter de urgência, um projeto de lei que visa reservar 20% das vagas em concursos públicos para candidatos negros. O que é interessante, no entanto, é que sua aprovação pode gerar um vácuo de pessoas qualificadas para esses cargos de relevo que a política visa implementar. Pensemos, por exemplo, no judiciário. Para ingressar na magistratura, faz-se necessário ter experiência jurídica de pelo menos 3 anos, além de ser aprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Todos os cargos reservados para as ações afirmativas, nesse sentido, demandariam advogados negros experientes, além de indígenas e outros grupos etnicos, e sabemos da dificuldade que esses grupos tem em adentrar essas carreiras.

O problema se torna mais agudo nos cargos específicos de professor e pesquisador universitário. As Universidades Federais brasileiras tem, em seu corpo docente, quase a totalidade de professores doutores ou pós doutores. A excelência do ensino, pesquisa e extensão das universidades estão relacionadas ao alto grau de formação desses docentes. A Lei de cotas 12.711/2012, que reserva 50% das vagas para candidatos oriundos da ensino público e dentre esses uma parcela para negros, indígenas e etc., baseado nos índices do IBGE, possibilita a entrada em massa de estudantes pobres e negros, mas não garante, de forma alguma, a continuação da formação destes estudantes nas carreira científicas.

Os programas de pós graduação aparecem, nesse sentido, como filtros para esses estudantes. Alguns programas são sensíveis ao processo criado pelo REUNi e pelas ações afirmativas, e buscam ampliar a diversidade de seu corpo discente, mas esses programas ainda são uma minoria e estão restrito, em grande parte, a algumas áreas específicas, como as ciências humanas. Para o especialista em ações afirmativas e diretor da ONG Educafro, frei David Santos, é preciso abrir mais portas da pós-graduação para excluídos. "A seleção sempre foi cheia de subjetividades. Falta um pacto nacional para resolver o problema".

Frei David Santos, diretor da ONG Educafro.

É de conhecimento de todos que algumas universidades tem aderido às ações afirmativas em alguns de seus programas de pós-graduação de maneira formal, reservando vagas para os grupos sociais menos favorecidos, como a UnB (Universidade de Brasília), que reservou 20% das vagas para o mestrado e doutorado para alunos negros e indígenas. O Museu Nacional (Universidade Federal do Rio de Janeiro), de maneira semelhante, cria todo ano uma vaga a mais para estudantes indígenas em seu programa. A mais progressista, nessa linha, é a UnEB (Universidade Estadual da Bahia) que reserva 40% de suas vagas nos cursos de pós graduação para negros pobres e indígenas. Essas ações possibilitam a continuação da formação dos alunos e a possibilidade destes em seguir na carreira científica, mas como não faz parte da agenda do MEC, existem em número reduzido e casos pontuais.

Wellington, ativista do CONAJIR, discute o tema em evento na UFSCar

Sendo assim o CONAJIR (Coletivo Nacional de Juventude Pela Igualdade Racial) convoca a militância a se somar em uma campanha nacional de promoção de políticas afirmativas também na pós graduação. O princípio constitucional, como vimos, não se refere somente ao caso específico da UnB, e sim a qualquer programa de ação afirmativa, e é por isso que lutaremos para expandir essa importante conquista do movimento social Negro aos programas de pós graduação.
Não queremos somente justiça social, no sentido de possibilitar nossa entrada e permanência nos programas, e sim promover a diversidade na produção do conhecimento científico, possibilitando novos olhares e diálogos à agenda de pesquisa no país. Partimos da perspectiva de que direitos geram direitos, e que a cidadania só existe no exercício desses direitos.

Entendemos que há a necessidade de pressionarmos o Estado e empresas privadas em todos os campos, se quisermos construir um país mais justo em oportunidades e que valorize sua diversidade. Queremos que as diferenças sejam reconhecidas, e que o poder público se organize a partir desse reconhecimento. Queremos ser doutores e pós doutores, pesquisar em institutos de pesquisa de ponta e integrar o corpo docente das universidades públicas e privadas. O sucesso das cotas, a essa altura, já é um fato. Vamos ampliar esse sucesso?

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Documentário Sobre os Movimentos de Moradia em São Paulo


 Perturbador, surpreendente e educativo são alguns dos adjetivos para esse documentário, LEVA aborda a realidade social das pessoas que moram em ocupações de prédios abandonados no centro de São Paulo.




domingo, 26 de janeiro de 2014

Adolescente de apenas 16 anos, é aprovada em medicina na UFBA

Adolescente baiana é aprovada em medicina na Ufba sem cursar ensino médio
Publicado por Redação Bonfim Notícias em 25 de janeiro de 2014 

RTEmagicC_mariapaulafrias_robsonmendes.jpgNo chão do quarto, um volume surrado de Harry Potter e a Pedra Filosofal (em versão econômica) parece esquecido. Na prateleira, só algumas obras de literatura — de Jeff Lindsay a Machado de Assis. E, sobre o armário, duas únicas caixas dão conta dos materiais que preservou da escola. Com apenas 16 anos, e sem nem cursar o terceiro ano do ensino médio, Maria Paula Frias já está aprovada para o curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o quinto mais disputado do país. Detalhe: ela obteve a 10ª maior nota entre os classificados.

Apesar do desempenho, Maria Paula ainda não pôde se matricular na Ufba. Isso porque sua idade não permite obter o certificado de conclusão do ensino médio, necessário para a matrícula. A família, então, entrou com uma ação na Justiça para que a filha pudesse cursar o ensino superior sem precisar voltar à escola — o Colégio Sartre COC — onde as aulas já começaram. A juíza Renata Mesquita, da 14ª Vara Cível Federal entendeu que ela merece, sim, a vaga e emitiu uma liminar garantindo sua pré-matrícula — o que ela já fez na última segunda-feira.

Segundo o advogado da menina, Antonio Jorge Santos, a decisão se baseou no artigo 205 da Constituição que versa sobre “razoabilidade e proporcionalidade”. “Decisões como esta valorizam a meritocracia, garantindo o acesso da jovem à universidade sem precisar concluir o ensino médio”, disse. Justiça à parte, Maria Paula já pode, inclusive, colocar no currículo duas aprovações em Enem.
Isso porque em 2012, quando ainda cursava o primeiro ano do ensino médio, ela obteve 878 pontos — desempenho que lhe garantira vaga na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Além disso, ela tem quatro medalhas em Olimpíadas Brasileiras de Química – duas de ouro, uma de prata e outra de bronze. Apesar de tudo, ela tinha dúvidas se seria classificada para a Ufba. “Era o meu sonho, mas eu não tinha ideia de que iria tão bem”, diz.

“Você não é deste mundo!”, “É um alienígena”, ouviu dos amigos. Mas está enganado o leitor se concorda, pois ela não tem nada de anormal. Muito estudiosa e responsável, ela revisava todos os assuntos da escola diariamente, mas nunca abdicou da vida social e jamais deixou de curtir os fins de semana. “Não sou a pessoa que mais estuda no mundo”, revela.

Maria Paula conta, inclusive, que só depois de tirar uma soneca de meia hora e ir à academia se dedicava aos conteúdos para o Enem. Filha de cubanos, ela mora na Pituba. A mãe, socióloga, e o pai, engenheiro nuclear, são seus exemplos. Mas o interesse em Medicina veio da vontade de exercer a solidariedade e a “arte de fazer cirurgias”.


Fonte: Correio24Horas
*Do Correio24Horas

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

MANIFESTO DE APOIO À JUVENTUDE NEGRA, POBRE E DAS PERIFERIAS DA CIDADE DE SÃO PAULO!



PELO DIREITO À CIRCULAÇÃO E A EXPRESSÃO DE SUA ARTE E CULTURA.

São Paulo 18 de Janeiro de 2013

"É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo o cidadão brasileiro, independente da etnia ou cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiososo e culturais" (Art. 2o. do Estatuto da Igualdade Racial)

O Racismo brasileiro já foi amplamente denunciado por movimentos e intelectuais. Em dezembro de 2013 a ONU, através de uma comissão especial em visita ao Brasil, mais uma vez declarou: “Os afro-brasileiros não serão integralmente considerados cidadãos plenos sem uma justa distribuição do poder econômico, político e cultural”, reforçando a ideia do racismo como estruturante das desigualdades em nosso país.

A barbárie social expõe sua face racista em especial através dos números dos homicídios, em especial aquele promovido pelas forças de repressão do Estado. A realidade das prisões brasileiras, agora simbolizada pela revelação dos acontecimentos no presídio de Pedrinhas no Maranhão ou a carnificina promovida por policiais em Campinas reforça o que sempre denunciamos: o caráter racista do Estado e de seus dirigentes.

Esse racismo se traveste cotidianamente a medida da necessidade do opressor. Nesse momento vivemos em São Paulo e em outros grandes centros mais uma das faces do racismo estrutural brasileiro: A reação dos Shoppings, da Polícia e  da Justiça em relação a presença de “jovens funkeiros” nestes estabelecimentos.

Com a liminar que garantiu o direito ao JK Iguatemi e a outros diversos Shoppings de impedir a entrada de jovens negros, pobres e funkeiros, percebe-se a reafirmação da missão da policia, da justiça e do Estado: a proteção à iniciativa privada e aos seus valores civilizatórios tendo, como sempre, um alvo bem definido: negros e pobres. Trata-se, sobretudo de um precedente legal perigoso a medida que promove e formaliza uma prática análoga ao apartheid.

Cruzar os braços diante de fatos tão graves significaria reforçar a naturalização da violência contra negros e pobres no Brasil. Afinal, os barrados nas portas dos shoppings são os mesmos proibidos de frequentar universidades; são os mesmos que perfazem maioria entre analfabetos, miseráveis, desprovidos de serviços básicos como saúde, educação, moradia; são os mesmos ridicularizados e estigmatizados pela grande mídia e, sobretudo, são os mesmos que cotidianamente são parados, esculachados, presos, torturados e mortos pela polícia nas periferias do Brasil.

Os rolezinhos em shoppings que se espalham por todo país revela uma das faces da crise urbana, carente de espaços de convivência, acesso a arte, cultura e lazer, condições entregues pelo Estado aos cuidados e usufruto da iniciativa privada de cidades como São Paulo, estruturadas com base na concentração do solo e na especulação imobiliária, que provocam a exclusão, desterritorialização e expulsão da população negra e periférica, para regiões carentes de equipamentos e serviços sociais e culturais. Os Governos tem fundamental responsabilidade e devem responder a essa demanda de maneira imediata.

Criminalizado como um dia fora a capoeira, o samba e o RAP, o Funk moderno é tão contraditório em seu conteúdo quanto o é resistência em sua forma e estética. E se está servindo também para fazer aflorar o racismo enraizado na alma das elites hipócritas – muito mais vinculadas aos valores da luxúria e ostentação que o Funk, declaramos: somos todos funkeiros!

Exigimos:

·         Anulação imediata das liminares que garantem o direito de segregação aos Shoppings;
·         Pedidos públicos de desculpas pela ação racista por parte dos Shoppings e dos responsáveis pelas liminares no âmbito da Justiça;
·         Imediato debate público com governos de todas as esferas sobre a pauta da ampliação dos espaços e condições de acesso a arte, cultura e lazer que possam contribuir para a inclusão, a emancipação e garantia de direitos das juventudes, principalmente da juventude negra, pobre e de periferia.
·         Fim do Genocídio da Juventude Negra
·         Desmilitarização das Polícias e amplo debate sobre um novo modelo de segurança Pública para o Brasil.


Assinam

1.       CIRCULO PALMARINO
2.       UNEAFRO BRASIL – União de Núcleos de Educação Popular para Negr@s e Classe Trabalhadora
3.       MNU - Movimento Negro Unificado
4.       CONEN-Coordenação Nacional De Entidades Negras
5.       Núcleo De Consciência Negra Na USP
6.       Instituto Luiz Gama
7.       Quilombo Raça e Classe
8.       UNEGRO - União de Negros Pela Igualdade
9.       APN’s - Agentes de Pastoral Negros do Brasil 
10.    Coletivo Negro USP
11.    Bocada Forte Hip Hop
12.    Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras do Estado de São Paulo
13.    Ceabra - SP
14.    CENARAB - Centro Nacional de Religiosidade e Resistência Afro-Brasileiro
16.    Coletivo Quilombação
17.    Coletivo Katu
18.    Fórum de Mulheres Negras do Estado de São Paulo
19.    Fórum Estadual de Juventude Negra do Espírito Santo - FEJUNES
20.    INSPIR - Instituto Sindical Interamericano Pela Igualdade Racial
21.    Instituto Búzios
22.    IPEAFRO - Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
23.    Jornal Negritude
24.    Kwê Seja Dan - Sinha Mejito Kika De Gbessen
25.    Oriashé  - Sociedade Brasileira De Cultura E Arte Negra
26.    QUILOMBHOJE Literatura
27.    Agência Popular de Fomento a Cultura Solano Trindade
28.    AMPARAR - Associação de Amigos e Familiares de Presos(as)
29.    ANEL
30.    Associação De Favelas De São José Dos Campos
31.  Banco Comunitário União Sampaios
32.    Bloco Saci Do Bixiga
33.    Centro Acadêmico Guimarães Rosa
34.    Campanha "Eu Pareço Suspeito?"
35.    Campanha “Por Que O Senhor Atirou Em Mim?”
36.    Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
37.    CMP - Central dos Movimentos De Moradia
38.    Coletivo Arrua
39.    Coletivo de Poetas e Poetizas Marginais De Altamira (Xingu E Transamazônia)
40.    Coletivo Quilombo - EPS
41.    DCE-USP
42.    ECLA - Espaço Cultural Latino Americano
43.    Esquerda Popular Socialista - São Paulo
44.    Federação de Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB
45.    FLACSO - Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais
46.    Frente Perspectiva Mackenzie
47.    Imagem da Vida
48.    INESC - Instituto De Estudos Sócioeconomicos
49.    Instituto Práxis
50.    Rede 2 De Outubro
51.    IPJ - Instituto Paulista De Juventude
52.    JSOL
53.    Juntos
54.    Juventude do PT
55.    Juventude LibRe - Liberdade e Revolução
56.    Levante Popular da Juventude
57.    Mães De Maio
58.    Mandato Deputada Estadual Leci Brandão
59.    Mandato Deputado Estadual Adriano Diogo
60.    Mandato Deputado Federal Ivan Valente
61.    Marcha Mundial De Mulheres
62.    MLB -  Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
63.    MMM-RJ
64.    Movimento Mulheres em Luta
65.    Movimento Paratod@S
66.    Movimento Primavera 
67.    Centro Acadêmico de Histária -  USP
68.    Movimento Unidade na Luta - JPT
69.    MST 
70.    Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania de Marília
71.    Plataforma dos Movimentos Sociais Pela Reforma Política
72.    Rede Emancipa
73.    Refundação Comunista
74.    Secretaria Municipal De Juventude Do PT São Paulo
75.    Secretaria Nacional De Juventude Do PT
76.    Sindicato dos Advogados de São Paulo
77.    SINTAEMA - Sindicato Dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo
78.    UJS - União Da Juventude Socialista
79.  União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências
80.    União Nacional dos Movimentos De Moradia
81.    WAPI Brasil

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Entre os Rolezinhos e o Sonho de Mandela

Mal secaram as lágrimas por razão da morte de Nelson Mandela no fim de 2013 e temos que nos deparar com a segregação racial à brasileira em 2014, agora mascarada pela proibição dos chamados Relezinhos dentro dos shoppings paulistas.

 
(Jovens fazem rolezinho no shopping Itaquera Foto: Wanderley Preite Sobrinho/iG São Paulo)


Será que é um ato de extrema ousadia ir dar um passeio em um shopping de São Paulo? Bem, isso vai depender de qual sua origem social, sua renda, e da cor da sua pele. Por quê?

Por que dentre outros fatos, somos um país preconceituoso, racista, e repleto de exclusão social.

        A juventude preta, pobre e periférica brasileira como se não bastasse a marginalização e a alta exposição a violência agora recebe o recado da elite paulistana: “Não queremos vocês aqui.” Essa mensagem, embora não declarada abertamente, sempre esteve presente nos espaços elitizados da cidade. São os muros invisíveis da exclusão. Muros erguidos e sustentados por aqueles que insistem em segregar o diferente, nesse caso, a juventude pobre, negra, funkeira e periférica.

           Mas o que nos legou Mandela? O que será que aprendemos, por exemplo, com Carta da Liberdade do Congresso Nacional Africano  de 1955, tão defendida por ele, em que no seu 3° paragrafo temos os dizeres:

* (...) Todas as pessoas têm igual direito de utilizar suas próprias línguas, e desenvolver a sua própria cultura popular e costumes; Todos os grupos nacionais devem ser protegidos por lei contra insultos à sua raça e orgulho nacional; A pregação e a prática da nacionalidade, raça ou discriminação de cor e desprezo deve ser um crime punível; Todas as leis e práticas do apartheid deve ser anuladas.

       Infelizmente o sonho de Mandela parece estar longe de se tornar realidade. E mais do que sermos ousados para "invadir o santuário de consumismo da elite paulista” (shoppings), que também sejamos ousados todos os dias de 2014, que façamos da luta contra discriminação o racismo e a exclusão a nossa luta cotidiana. Pois o racismo não está somente dentro dos shoppings, está na escolas, instituições do estado e nas empresas, ou seja, está em nossa sociedade. 


 disponível em:http://correionago.ning.com/profiles/blogs/entre-os-rolezinhos-e-o-sonho-de-mandela?xg_source=facebookshare