sexta-feira, 9 de maio de 2014

MC Luana Hansen fala sobre feminismo, Hip Hop e produção independente.

         Conajir - Luana, antes de tudo, nós agradecemos imensamente por nos conceder essa entrevista, para nós é um grande prazer. Bem, sem mais demorara, estamos ansiosos para te conhecer melhor e mergulhar no mar do Hip Hop feminino com Luana Hansen. Então, diz pra gente: quem é você e por que você escolheu a arte do Hip Hop?

          MC Luana - Sou Luana Hansen , em 2002 tive meu primeiro contato com o movimento Hip Hop, pois foi neste ano que conheci Sandrão (do grupo RZO), e logo gravei meu primeiro som no estúdio do DJ CIA com o grupo em que fiz parte: A - FORÇA.
Em setembro de 2003 conheci através do Sandrão (RZO) as meninas: Angélica e Tina, e com elas formei o Grupo A-TAL, parceria perfeita, três mulheres, que tinham algo em comum: a música. Afiadas na rima e no canto, munidas de composições próprias que relatavam o melhor do gueto com a elegância das festas Black.
Nestes anos de estrada, ao lado da Angélica e Tina, fiz uma história de muito barulho: Em 2004 no “AGOSTO NEGRO” no estádio do Pacaembu, abrimos o show do Racionais mc’s para mais de 16.000 pessoas e assim foi no Rio de janeiro no prêmio “HUTÚZ 2004”, em São Paulo na “GAVIÕES DA FIEL”, e no bairro do “CAPÃO REDONDO” para a comunidade.
O primeiro show do grupo ATAL com um artista internacional ocorreu no palco do “TOM BRASIL” no dia 05/05/04 onde fizemos o Show junto do cantor “JA RULE” e “SACRAMENTOS”.
Em 2005 foi um ano de conquista, nos dias 8 e 10 de abril participamos do projeto “INTERVALOS MUSICAIS” do CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, por termos participado do Longa metragem de “Antônia” onde fiz o papel da vendedora de cachorro quente.
Neste mesmo ano nos dias 24 e 25 de julho fizemos a abertura do “CREATIVE COLOR um dos eventos mais importantes na área de cabelo e beleza no Brasil.
E ainda no dia 23 de novembro ganhamos nosso primeiro troféu no “HUTÚZ 2005” prêmio na categoria “MELHOR DEMO FEMININO” no Canecão - RJ e no dia 27 de novembro cantamos no “ARMAZÉN 5”, na festa de encerramento do evento. Tivemos o prazer do convite a algumas reportagens que as trouxeram a chance de contar com aparições nas revistas “RAP BRASIL”, “RAP NEWS”, “TRIBO” e “JORNAL O GLOBO” e várias composições gravadas. Depois de seis anos juntas cada uma resolveu seguir seu destino.
Tive a oportunidade de começar a desenvolver outros conhecimentos além de Rimar e fazer Freestyle comecei a me interessar pela arte dos vinis, tornando-me DJ.

(MC Luana Hansen)

Alguns de meus trabalhos desenvolvidos como DJ e MC:

Virada Esportiva-Parque do Ibirapuera 2007
Blitz Coca-Cola Promoção corda na rua
Projeto Souza Ramos (Ford) 2008
Festa na Fábrica da Oakley-Sp
9° Semana de Cultura Hip Hop - SESC Consolação
Projeto Hip Hop Mulher 2009
DJ / Mc’s do Tour do Rodriguinho 2010 (Chapada de Medicina-BA/ Samba Salvador-BA/ Rio de Janeiro-RJ /Belém /Aracaju/Porto Alegre/Florianópolis, Campinas, entre outros.

Em 2012 consolidei minha carreira solo. Ao lado de Elisa Gargiulo (feminista e vocalista do grupo DOMINATRIX e da banda Visiona) participou do Documentário: 4 MINAS, onde pude mostrar  o meu dia a dia como rapper , DJ e Lésbica assumida .Ainda com Elisa Gargiulo produzimos  uma de minhas músicas mais polêmicas “Ventre Livre  de Fato ” que esteve num festival pelos direitos Humanos na Espanha e ganhando uma versão com legenda em espanhol .
Nesse mesmo ano começou uma parceria com a Banda PLAY,  de DJ e MC junto aos ex – integrantes do grupo Sampacrew: Valtinho Jota e Junior Vox. No final de 2012 descobri mais um de meus dons, agora como atriz na Companhia de teatro XPTO,  desenvolvi um trabalho de educação de transito nas escolas do estado de Pernambuco ,com um musical que trás nas letras de Rap as leis e sinalizações a serem seguidas.
Em 2013 fiz vários shows como A caminhada das Lébicas e Bissexuais, Layde Fest - ao Lado das cubanas Krudas Cubansi , Marcha da Maconha-Santos , Festa do Babado - Unicamp - Pedala Bicha - Campinas -São Paulo não tolera Violência contra Mulher 
Em 2014 já participei do 8 de março -Ato do dia Internacional da Mulher - Camping Digital - a Marcha da Maconha - Caminhada das Lébicas e bissexuais
segui a agenda ....
Ao longo de minha carreira participei de eventos em “ONGs”, “Centros comunitários” de várias regiões da Grande São Paulo, cantei no evento “Hip Hop Cultural” chegando junto no show e nos debates, na “Galeria Olido” no centro aos quatros cantos da cidade, e em eventos de RAP ao lado de Quelinah, Guru, Max BO, Mc Auri (RJ), DJ ZÉ Colmeia, DJ Roger, o produtor Aldo Gouveia, WX, Cabal, Thaide, Rodriguinho (ex-Travessos)... Etc.
Continuo mantendo a qualidade, a originalidade e a beleza do som com um estilo mais “Gangstars” e “suingado”.
Agora produzindo de forma independente meu primeiro Álbum Solo em meu home Studio Com o nome DJ Luana Hansen, Promete sacudir a história do Rap Atual.
Contando com a parceria de Adriana Ferreira como (Back -Vocal)  e como equipe de Show.
Não escolhi o Hip Hop sinto que foi o Rap que me escolheu ...

(MC Luana Hansen)

        Conajir - Muitos Rappers costumar afirmar que o Hip Hop salva. Esta afirmação tem algum significado p/ você?

         MC Luana - Filha de mãe solteira  não tive nenhum padrinho musical ou algo do tipo. Dote musical foi o que aprendi nas ruas durante a minha passagem de garota pra mulher ,onde também deixei pra trás o meu desejo de jogar futebol e descobri as drogas e o crime,  nesta fase da minha vida conheci  o Crack,  no centro de São Paulo e descobri  onde tem e quanto custa! Sempre comprei por quantidade afinal era o ouro branco passava a noite na frente de umas das boates mais velha da cidade (LOVE STORY) e através das garotas de programa vendia muita droga pra no final da madrugada voltar para um apartamento no Copãn e usava 15 a 25 gramas de Crack por dia. De traficante a usuária em questão de segundos afinal faz dinheiro de dia perde a noite.
Mas também foi no meio de tanta coisa errada que eu aprendi a fazer algo certo pra mim...
Entre versos e o Crack percebi, (não sozinha é claro, com a ajuda de alguns e sim fui internada numa clinica de reabilitação) o meu verdadeiro potencial: a facilidade de narrar  o meu cotidiano, através do RAP e da Rima.
SIM O RAP ME SALVOU ....

      Conajir - Qual o seu envolvimento com o Hip Hop? Além de cantar Você tem um trabalho autoral e produz os seus discos, certo? Por que você escolheu este caminho?


       MC Luana - Como já disse não comecei hoje no hip hop, já trago uma caminhada de doze anos e vivi muitas situações que nunca visava realmente o meu potencial, ou seja, foram muito poucos os locais onde eu podia ser eu mesma e gravar sossegada. Sempre  fui de observar e querer aprender e percebi através do conhecimento  que não era tão difícil produzir ou criar, afinal tudo hoje em dia é digitalizado tornando bem mais fácil coisas como gravação e produção, fui pra cima. Nunca pensei em desistir mesmo quando ouvi  que os homens não querem uma "mina"rimando como homem, os caras querem as minas sensualizando. Achei isso tão fútil que criei meu CD em casa pra poder hoje estar ai sem medo de mostrar o que eu penso e acredito.

     Conajir -  Em uma de suas letras você diz:

“Morre negra, morre jovem
Morre gente da favela,
Morre o povo que é carente
Que não passa na novela
28 de setembro não é só mais um
É dia de luta, não é dia comum
Direito imediato, revolução de fato
Protesto na batida, ventre livre de fato
Direito imediato, revolução de fato” (...)

       Conajir - Você se sente privilegiada por ser uma mulher da cultura Hip Hop. Ou melhor, ser uma mulher no meio Hip Hop facilitou o seu sucesso profissional em algum momento? E dentro disso, você acha que Hip Hop e feminismo combinam?

         MC Luana - Não me sinto privilégiada no Hip Hop nem hoje, nem nunca fui.
Sou mulher e lésbica e o Hip Hop é Machista, fazer um trabalho onde você põe a mulher em primeiro plano desde a produção até a finalização trás um novo conceito.
A maior prova do machismo no RAP  pode ser vista em seus próprios eventos onde se pode contar nos dedos o número de mulheres convidadas para ocupar o palco.
Tenho facilidade de criar e improvisar e isso foi o que fez com que chegasse mais longe.
O hip hop e o feminismo são duas maneiras de protesto, que podem trabalhar juntos para trazer musicas assim como as minhas que retratam a realidade das mulheres, sendo assim um meio de levar ás pessoas de uma forma consciente e politica questões como violência domestica, sexual, a desvalorização da mulher no mercado de trabalho, a legalização do aborto (que foi tema de uma das musicas que criei juntamente com Elisa Gargiulo, feminista e vocalista da banda visiona), etc... ou seja são duas formas potenciais de valorizar a força da mulher. Sim o Hip Hop e o Feminismo combinam e muito!
Pra chegar onde quer chegar tem que ter amigos e eu os encontro entre pessoas que não necessariamente estão ligadas no hip hop.

(MC Luana Hansen)

       Conajir -  Você poderia citar algumas das duas suas refecias que considere ter forte influenciam sobre o seu trabalho?
        MC LuanaAcho que as minhas maiores influencias no Rap foram a  Queen Latifah é uma cantora, rapper e atriz norte-americana,  sempre foi uma mulher de atitude , responsavel por  um CD maravilhoso que ate hoje serve  de cabeceira, e é logico ela que é uma das maiores produtoras que existe Melissa Arnette Elliott, mais conhecida como Missy Elliott, é uma rapper, MC, compositora e produtora musical de Portsmouth, Virgínia.
Claro gosto de outras Rappers como Rha Digga, Lauryn Hill e não posso  dizer que eu não ouço outras coisas por exemplo  no meu Cd você pode encontrar referências Brasileiras por exemplo Clara Nunes, Bezerra da silva, Di -Melo,Hyldon.
Como Rapper nacional  Ouvi , Vi e Aplaudi muitas vezes minha querida Dina Dee , Negra Giza,Sabotage.
Sou eclética e tive grandes professores como: Wilson Sukorski , Ricardo severo , Rodolfo Valente grande compositores da musica Eletroacústica .
Acho que minha musica é como eu, uma mistura unica do sons, notas, letras e tons .

       Conajir -  Luana, o seu perfil compreende e representa muitas das lutas sociais no Brasil. Conte pra nós, pra você, o que é ser mulher, negra, periférica e lésbica neste país? Qual o seu maior sonho?

      MC Luana - Nossa! Como já disse uma vez, ser mulher já me coloca em segundo plano, pois é um sistema onde a mulher ainda não tem domínio do próprio corpo. Como  Negra, periférica e Lésbica  migramos para o quinto ou sexto  lugar. Não servimos, pois não somos submissas,  e é isso que me faz querer ir mais além.
Meu maior sonho de verdade é simples, ter minha casa própria, e poder criar lá um local cultural onde outras pessoas como eu possam ter a liberdade de dar um primeiro passo pra ir mais longe.
Hoje já tenho o meu estúdio onde vejo diariamente jovens tentando deixar um pouco do seu legado entre as rimas e versos .
Tento neste local criar músicas que relatam isso e já recebo e-mails de pessoas que querem que eu transforme Poemas, relatos, teses em música.
E é esse meu sonho viver do que faço , e fazer por algum sentido.


        Conajir -   MC Luana, muitas das nossas jovens da periferia se espelham em você por sua postura, coragem e militância. Se pudesse o que diria para cada uma delas, há  alguma mensagem em especial que gostaria de transmitir a elas?

        MC Luana - Nossa muito obrigada!Minha luta é diária e assim como as delas, as barreiras sempre virão mas nunca me esqueci de onde vim,  e que pra chegar onde cheguei, preciso e sempre precisarei de pessoas, amigos verdadeiros, pois nada tem valor nesta vida se não for feito com amor, e que mais bonito do que ter  é você ser humano.
A frase que eu deixo é da minha nova musica chamada Sabedoria ...

"Que espero de Deus, que como um flash arranque o rancor
e que todos nesta Terra seja mais do que Cor
Diga Não a todas guerras e seja licito Amar
e será certo acreditar num mundo Melhor"....

      Conajir -  Neste espaço vamos deixar em aberta para que você fale sobre algo que não perguntamos, mas que vc gostaria de falar.

       MC Luana - Adorei ter respondido suas perguntas e estou a disposição sempre que precisar ,

muito obrigada.

      MC Luana Hansen
Produtora: Adriana Ferreira                                                       
Email:Adriana_santosferr@hotmail.com

Musica:Ventre Livre de Fato