Conajir - Luana, antes de tudo, nós agradecemos imensamente por nos conceder essa entrevista,
para nós é um grande prazer. Bem, sem mais demorara, estamos ansiosos para te
conhecer melhor e mergulhar no mar do Hip Hop feminino com Luana Hansen. Então, diz pra gente: quem é você e por que você escolheu a arte do Hip Hop?
MC Luana - Sou Luana
Hansen , em 2002 tive meu primeiro contato com o movimento Hip Hop, pois foi
neste ano que conheci Sandrão (do grupo RZO), e logo gravei meu primeiro som no
estúdio do DJ CIA com o grupo em que fiz parte: A - FORÇA.
Em setembro
de 2003 conheci através do Sandrão (RZO) as meninas: Angélica e Tina, e com
elas formei o Grupo A-TAL, parceria perfeita, três mulheres, que tinham algo em
comum: a música. Afiadas na rima e no canto, munidas de composições próprias
que relatavam o melhor do gueto com a elegância das festas Black.
Nestes anos
de estrada, ao lado da Angélica e Tina, fiz uma história de muito barulho: Em
2004 no “AGOSTO NEGRO” no estádio do Pacaembu, abrimos o show do Racionais mc’s
para mais de 16.000 pessoas e assim foi no Rio de janeiro no prêmio “HUTÚZ
2004”, em São Paulo na “GAVIÕES DA FIEL”, e no bairro do “CAPÃO REDONDO” para a
comunidade.
O primeiro
show do grupo ATAL com um artista internacional ocorreu no palco do “TOM BRASIL”
no dia 05/05/04 onde fizemos o Show junto do cantor “JA RULE” e “SACRAMENTOS”.
Em 2005 foi
um ano de conquista, nos dias 8 e 10 de abril participamos do projeto
“INTERVALOS MUSICAIS” do CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, por termos participado
do Longa metragem de “Antônia” onde fiz o papel da vendedora de cachorro
quente.
Neste mesmo
ano nos dias 24 e 25 de julho fizemos a abertura do “CREATIVE COLOR um dos eventos mais importantes na área de cabelo e beleza no Brasil.
E ainda no
dia 23 de novembro ganhamos nosso primeiro troféu no “HUTÚZ 2005” prêmio na
categoria “MELHOR DEMO FEMININO” no Canecão - RJ e no dia 27 de novembro
cantamos no “ARMAZÉN 5”, na festa de encerramento do evento. Tivemos o prazer
do convite a algumas reportagens que as trouxeram a chance de contar com
aparições nas revistas “RAP BRASIL”, “RAP NEWS”, “TRIBO” e “JORNAL O GLOBO” e
várias composições gravadas. Depois de seis anos juntas cada uma resolveu
seguir seu destino.
Tive a
oportunidade de começar a desenvolver outros conhecimentos além de Rimar e
fazer Freestyle comecei a me interessar pela arte dos vinis, tornando-me DJ.
Alguns de
meus trabalhos desenvolvidos como DJ e MC:
Virada
Esportiva-Parque do Ibirapuera 2007
Blitz
Coca-Cola Promoção corda na rua
Projeto
Souza Ramos (Ford) 2008
Festa na
Fábrica da Oakley-Sp
9° Semana
de Cultura Hip Hop - SESC Consolação
Projeto Hip
Hop Mulher 2009
DJ / Mc’s
do Tour do Rodriguinho 2010 (Chapada de Medicina-BA/ Samba Salvador-BA/ Rio de
Janeiro-RJ /Belém /Aracaju/Porto Alegre/Florianópolis, Campinas, entre outros.
Em 2012
consolidei minha carreira solo. Ao lado de Elisa Gargiulo (feminista e
vocalista do grupo DOMINATRIX e da banda Visiona) participou do Documentário: 4
MINAS, onde pude mostrar o meu dia a dia
como rapper , DJ e Lésbica assumida .Ainda com Elisa Gargiulo produzimos uma de minhas músicas mais polêmicas “Ventre
Livre de Fato ” que esteve num festival
pelos direitos Humanos na Espanha e ganhando uma versão com legenda em espanhol
.
Nesse mesmo
ano começou uma parceria com a Banda PLAY,
de DJ e MC junto aos ex – integrantes do grupo Sampacrew: Valtinho Jota
e Junior Vox. No final de 2012 descobri mais um de meus dons, agora como atriz
na Companhia de teatro XPTO, desenvolvi
um trabalho de educação de transito nas escolas do estado de Pernambuco ,com um
musical que trás nas letras de Rap as leis e sinalizações a serem seguidas.
Em 2013 fiz
vários shows como A caminhada das Lébicas e Bissexuais, Layde Fest - ao Lado
das cubanas Krudas Cubansi , Marcha da Maconha-Santos , Festa do Babado -
Unicamp - Pedala Bicha - Campinas -São Paulo não tolera Violência contra
Mulher
Em 2014 já
participei do 8 de março -Ato do dia Internacional da Mulher - Camping Digital
- a Marcha da Maconha - Caminhada das Lébicas e bissexuais
segui a
agenda ....
Ao longo de
minha carreira participei de eventos em “ONGs”, “Centros comunitários” de
várias regiões da Grande São Paulo, cantei no evento “Hip Hop Cultural”
chegando junto no show e nos debates, na “Galeria Olido” no centro aos quatros
cantos da cidade, e em eventos de RAP ao lado de Quelinah, Guru, Max BO, Mc
Auri (RJ), DJ ZÉ Colmeia, DJ Roger, o produtor Aldo Gouveia, WX, Cabal, Thaide,
Rodriguinho (ex-Travessos)... Etc.
Continuo
mantendo a qualidade, a originalidade e a beleza do som com um estilo mais
“Gangstars” e “suingado”.
Agora
produzindo de forma independente meu primeiro Álbum Solo em meu home Studio Com
o nome DJ Luana Hansen, Promete sacudir a história do Rap Atual.
Contando
com a parceria de Adriana Ferreira como (Back -Vocal) e como equipe de Show.
Não escolhi o Hip Hop sinto que foi o Rap que me
escolheu ...
(MC Luana Hansen)
Conajir - Muitos Rappers costumar afirmar que o Hip Hop salva. Esta afirmação tem
algum significado p/ você?
MC Luana - Filha de mãe
solteira não tive nenhum padrinho
musical ou algo do tipo. Dote musical foi o que aprendi nas ruas durante a
minha passagem de garota pra mulher ,onde também deixei pra trás o meu desejo
de jogar futebol e descobri as drogas e o crime, nesta fase da minha vida conheci o Crack, no centro de São Paulo e descobri onde tem e quanto custa! Sempre comprei por
quantidade afinal era o ouro branco passava a noite na frente de umas das
boates mais velha da cidade (LOVE STORY) e através das garotas de programa
vendia muita droga pra no final da madrugada voltar para um apartamento no
Copãn e usava 15 a 25 gramas de Crack por dia. De traficante a usuária em
questão de segundos afinal faz dinheiro de dia perde a noite.
Mas também foi no
meio de tanta coisa errada que eu aprendi a fazer algo certo pra mim...
Entre versos e o
Crack percebi, (não sozinha é claro, com a ajuda de alguns e sim fui internada
numa clinica de reabilitação) o meu verdadeiro potencial: a facilidade de
narrar o meu cotidiano, através do RAP e
da Rima.
SIM O RAP ME SALVOU ....
Conajir - Qual
o seu envolvimento com o Hip Hop? Além de cantar Você tem um trabalho autoral e
produz os seus discos, certo? Por que você escolheu este caminho?
MC Luana - Como já disse não
comecei hoje no hip hop, já trago uma caminhada de doze anos e vivi muitas
situações que nunca visava realmente o meu potencial, ou seja, foram muito poucos
os locais onde eu podia ser eu mesma e gravar sossegada. Sempre fui de observar e querer aprender e percebi
através do conhecimento que não era tão
difícil produzir ou criar, afinal tudo hoje em dia é digitalizado tornando bem
mais fácil coisas como gravação e produção, fui pra cima. Nunca pensei em
desistir mesmo quando ouvi que os homens
não querem uma "mina"rimando como homem, os caras querem as minas
sensualizando. Achei isso tão fútil que criei meu CD em casa pra poder hoje
estar ai sem medo de mostrar o que eu penso e acredito.
Conajir - Em uma de suas letras você
diz:
“Morre
negra, morre jovem
Morre gente
da favela,
Morre o
povo que é carente
Que não
passa na novela
28 de
setembro não é só mais um
É dia de
luta, não é dia comum
Direito
imediato, revolução de fato
Protesto na
batida, ventre livre de fato
Direito
imediato, revolução de fato” (...)
Conajir - Você se sente privilegiada por ser
uma mulher da cultura Hip Hop. Ou melhor, ser uma mulher no meio Hip Hop
facilitou o seu sucesso profissional em algum momento? E dentro disso, você
acha que Hip Hop e feminismo combinam?
MC Luana - Não me
sinto privilégiada no Hip Hop nem hoje, nem nunca fui.
Sou mulher
e lésbica e o Hip Hop é Machista, fazer um trabalho onde você põe a mulher em
primeiro plano desde a produção até a finalização trás um novo conceito.
A maior
prova do machismo no RAP pode ser vista
em seus próprios eventos onde se pode contar nos dedos o número de mulheres
convidadas para ocupar o palco.
Tenho
facilidade de criar e improvisar e isso foi o que fez com que chegasse mais
longe.
O hip hop e o
feminismo são duas maneiras de protesto, que podem trabalhar juntos para trazer
musicas assim como as minhas que retratam a realidade das mulheres, sendo assim
um meio de levar ás pessoas de uma forma consciente e politica questões
como violência domestica, sexual, a desvalorização da mulher no mercado de
trabalho, a legalização do aborto (que foi tema de uma das musicas que criei
juntamente com Elisa Gargiulo, feminista e vocalista da banda visiona), etc... ou
seja são duas formas potenciais de valorizar a força da mulher. Sim o Hip Hop e
o Feminismo combinam e muito!
Pra chegar onde
quer chegar tem que ter amigos e eu os encontro entre pessoas que não
necessariamente estão ligadas no hip hop.
Conajir - Você poderia citar algumas das duas suas refecias que considere ter
forte influenciam sobre o seu trabalho?
MC Luana - Acho que as minhas maiores influencias no Rap
foram a Queen Latifah é uma cantora,
rapper e atriz norte-americana, sempre
foi uma mulher de atitude , responsavel por
um CD maravilhoso que ate hoje serve
de cabeceira, e é logico ela que é uma das maiores produtoras que existe
Melissa Arnette Elliott, mais conhecida como Missy Elliott, é uma rapper, MC,
compositora e produtora musical de Portsmouth, Virgínia.
Claro gosto de outras Rappers como Rha Digga,
Lauryn Hill e não posso dizer que eu não
ouço outras coisas por exemplo no meu Cd
você pode encontrar referências Brasileiras por exemplo Clara Nunes, Bezerra
da silva, Di -Melo,Hyldon.
Como Rapper nacional Ouvi , Vi e Aplaudi muitas vezes minha
querida Dina Dee , Negra Giza,Sabotage.
Sou eclética e tive grandes professores como:
Wilson Sukorski , Ricardo severo , Rodolfo Valente grande compositores da
musica Eletroacústica .
Acho que minha musica é como eu, uma mistura
unica do sons, notas, letras e tons .
Conajir - Luana, o seu perfil compreende e representa muitas das lutas sociais no
Brasil. Conte pra nós, pra você, o que é ser mulher, negra,
periférica e lésbica neste país? Qual o seu maior sonho?
MC Luana - Nossa! Como já
disse uma vez, ser mulher já me coloca em segundo plano, pois é um sistema onde a
mulher ainda não tem domínio do próprio corpo. Como Negra, periférica e Lésbica migramos para o quinto ou sexto lugar. Não servimos, pois não somos
submissas, e é isso que me faz querer ir
mais além.
Meu maior sonho de
verdade é simples, ter minha casa própria, e poder criar lá um local cultural
onde outras pessoas como eu possam ter a liberdade de dar um primeiro passo pra
ir mais longe.
Hoje já tenho o meu
estúdio onde vejo diariamente jovens tentando deixar um pouco do seu legado
entre as rimas e versos .
Tento neste local
criar músicas que relatam isso e já recebo e-mails de pessoas que querem que eu
transforme Poemas, relatos, teses em música.
E é esse meu sonho
viver do que faço , e fazer por algum sentido.
Conajir - MC Luana, muitas das nossas
jovens da periferia se espelham em você por sua postura, coragem e militância.
Se pudesse o que diria para cada uma delas, há
alguma mensagem em especial que gostaria de transmitir a elas?
MC Luana - Nossa muito obrigada!Minha
luta é diária e assim como as delas, as barreiras sempre virão mas nunca me
esqueci de onde vim, e que pra chegar
onde cheguei, preciso e sempre precisarei de pessoas, amigos verdadeiros, pois
nada tem valor nesta vida se não for feito com amor, e que mais bonito do que ter é você ser humano.
A frase que eu
deixo é da minha nova musica chamada Sabedoria ...
"Que espero de Deus, que como um flash arranque o
rancor
e que todos nesta Terra seja mais do que Cor
Diga Não a todas guerras e seja licito Amar
e será certo acreditar num mundo Melhor"....
Conajir - Neste espaço vamos deixar em aberta para que
você fale sobre algo que não perguntamos, mas que vc gostaria de falar.
MC Luana - Adorei ter respondido suas perguntas
e estou a disposição sempre que precisar ,
muito
obrigada.
MC Luana Hansen
Produtora: Adriana
Ferreira
Email:Adriana_santosferr@hotmail.com
Musica:Ventre Livre de Fato
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