A Academia Brasileira de Letras - ABL, com 118 anos de história, acaba de eleger seu segundo presidente negro, o professor Domício Proença Filho.
(Machado de Asssis eDomício Proença)
A casa de Machado, como era conhecida a ABL, foi Inaugurada em 20 de julho de 1897. Ela possui uma grande carga simbólica, pois foi fundada por intelectuais progressistas do século (XIX), a exemplo de Rui Barbosa, o seu segundo presidente.
Sediada no Estado do Rio de Janeiro, a Academia ocupa hoje espaço físico do prédio Petit Trianon de Versalhes, que é uma réplica do edifício de mesmo nome na França. A instituição europeia inspirou o cultivo da língua no Brasil. A ABL é marcada por uma trajetória de vanguarda na busca pela valorização da língua, cultura e literatura brasileira, em um país à época, de maioria analfabeta.
Talvez por esta razão lá, como cá, a Academia de Letras preserva certo status social para seus membros, atribuindo a esses um tratamento de autoridade quando o assunto é língua.
Mesmo tendo como um de seus ilustres fundadores o carioca Joaquim Maria Machado de Assis, o garoto autodidata, de origem pobre e negra, que se tornou poliglota e o maior dos escritores brasileiros até os dias de hoje, a ABL não parece ter atingido as expectativas de seu precursor abolicionista.
Não possuo capacidades místicas que me permitam fazer previsões. Mas acredito que Machado, se vivo estivesse, certamente trabalharia por uma Academia que atingisse seu fim de zelar pela língua, mas, que também fosse uma instituição republicana, afirmativa, representativa dos grupos étnico-raciais que compõem nossa sociedade, desde o “achamento” destas terras.
Domício Proença Filho, o novo presidente da ABL, também é carioca e dono de uma importante trajetória acadêmica. Nascido em 25 de janeiro de 1936, é Doutor em letras e livre docente em Literatura Brasileira.
Proença parece ter um projeto de gestão mais representativo da população negra para a ABL, e quanto a isso, lembra um pouco o grande Machado de Assis. O que, convenhamos, não é pouca coisa. Pois não se trata de qualquer academia, sabemos que o letramento, ou se preferirem, a educação, sempre foi um privilégio no Brasil, não é mesmo?
“Aqui, por vezes, educação não é direito, é boleto.”
Mas voltando ao tema... Dizia o novo presidente em seu longo discurso de posse o seguinte:
“(...) a Casa de Machado de Assis, uma vez mais, situa claramente o seu posicionamento, em termos de nossa contingência comunitária. Não nos esqueçamos tempos fundadores de Joaquim Nabuco e de Machado de Assis, a ação pioneira de Afonso Arinos.
Entendo, a propósito, que, na realidade brasileira, respeitadas as opiniões em contrário, o núcleo de preocupação deve ser o combate contínuo e vigoroso ao racismo”.
Palavras belas não? Mas elas precisam se tornar prática, não só pelo que poderia ser a vontade de Machado de Assis ou de outros ilustres fundadores da ABL, mas, sobretudo, por que ainda temos um povo cativo da ignorância, uma ignorância decorrente do racismo em nossa sociedade.
Por qual razão foi preciso mais de um século para que outro negro se tornar presidente da ABL? E, se foram necessários mais de cem anos para eleger o segundo negro presidente da ABL, de quantos anos precisaremos para eleger a primeira mulher negra presidente da republica?
Teria o novo presidente o dever de agir afirmativamente em relação à população negra brasileira? Particularmente, penso que seria um gesto mínimo e simbólico, de reparação a nós negros/as e aos indígenas, por termos nossas populações dizimadas e nossas histórias violentadas.
Reconhecimento e a Inclusão social de grupos excluídos são mais que necessários, é uma atitude consciente, um dever de todos nós. Não se pode mais tolerar o racismo.
Ao novo presidente: que tenha sorte, uma boa gestão e que a imponente e pálida fachada do Petit Trianon “jamais se imponha sobre sua negritude”.
Fonte: Portal Africas
A casa de Machado, como era conhecida a ABL, foi Inaugurada em 20 de julho de 1897. Ela possui uma grande carga simbólica, pois foi fundada por intelectuais progressistas do século (XIX), a exemplo de Rui Barbosa, o seu segundo presidente.
Sediada no Estado do Rio de Janeiro, a Academia ocupa hoje espaço físico do prédio Petit Trianon de Versalhes, que é uma réplica do edifício de mesmo nome na França. A instituição europeia inspirou o cultivo da língua no Brasil. A ABL é marcada por uma trajetória de vanguarda na busca pela valorização da língua, cultura e literatura brasileira, em um país à época, de maioria analfabeta.
Talvez por esta razão lá, como cá, a Academia de Letras preserva certo status social para seus membros, atribuindo a esses um tratamento de autoridade quando o assunto é língua.
Mesmo tendo como um de seus ilustres fundadores o carioca Joaquim Maria Machado de Assis, o garoto autodidata, de origem pobre e negra, que se tornou poliglota e o maior dos escritores brasileiros até os dias de hoje, a ABL não parece ter atingido as expectativas de seu precursor abolicionista.
Não possuo capacidades místicas que me permitam fazer previsões. Mas acredito que Machado, se vivo estivesse, certamente trabalharia por uma Academia que atingisse seu fim de zelar pela língua, mas, que também fosse uma instituição republicana, afirmativa, representativa dos grupos étnico-raciais que compõem nossa sociedade, desde o “achamento” destas terras.
Domício Proença Filho, o novo presidente da ABL, também é carioca e dono de uma importante trajetória acadêmica. Nascido em 25 de janeiro de 1936, é Doutor em letras e livre docente em Literatura Brasileira.
Proença parece ter um projeto de gestão mais representativo da população negra para a ABL, e quanto a isso, lembra um pouco o grande Machado de Assis. O que, convenhamos, não é pouca coisa. Pois não se trata de qualquer academia, sabemos que o letramento, ou se preferirem, a educação, sempre foi um privilégio no Brasil, não é mesmo?
“Aqui, por vezes, educação não é direito, é boleto.”
Mas voltando ao tema... Dizia o novo presidente em seu longo discurso de posse o seguinte:
“(...) a Casa de Machado de Assis, uma vez mais, situa claramente o seu posicionamento, em termos de nossa contingência comunitária. Não nos esqueçamos tempos fundadores de Joaquim Nabuco e de Machado de Assis, a ação pioneira de Afonso Arinos.
Entendo, a propósito, que, na realidade brasileira, respeitadas as opiniões em contrário, o núcleo de preocupação deve ser o combate contínuo e vigoroso ao racismo”.
Palavras belas não? Mas elas precisam se tornar prática, não só pelo que poderia ser a vontade de Machado de Assis ou de outros ilustres fundadores da ABL, mas, sobretudo, por que ainda temos um povo cativo da ignorância, uma ignorância decorrente do racismo em nossa sociedade.
Por qual razão foi preciso mais de um século para que outro negro se tornar presidente da ABL? E, se foram necessários mais de cem anos para eleger o segundo negro presidente da ABL, de quantos anos precisaremos para eleger a primeira mulher negra presidente da republica?
Teria o novo presidente o dever de agir afirmativamente em relação à população negra brasileira? Particularmente, penso que seria um gesto mínimo e simbólico, de reparação a nós negros/as e aos indígenas, por termos nossas populações dizimadas e nossas histórias violentadas.
Reconhecimento e a Inclusão social de grupos excluídos são mais que necessários, é uma atitude consciente, um dever de todos nós. Não se pode mais tolerar o racismo.
Ao novo presidente: que tenha sorte, uma boa gestão e que a imponente e pálida fachada do Petit Trianon “jamais se imponha sobre sua negritude”.
Fonte: Portal Africas