sábado, 22 de fevereiro de 2014

Contra as Exceções: Por mais Inclusão nas Universidades

      Mas por que para além dos impostos, muitas vezes, temos que pagar se quisermos educação de boa qualidade? Por que a maioria dos pobres estão fora da universidade pública, e quando podem, pagam altas taxas e mensalidades nas universidades particulares? Se todos nós como contribuintes matemos as universidades públicas brasileiras E, porque não podemos exigir estarmos representados nessas universidades? Essas são questões precisam ser respondidas pelos gestores públicos a fim de entendermos qual a razão do lento desenvolvimento do país.

(Estudantes e militantes do movimento negro em protesto na USP).

      A educação, como diria Nelson Mandela, é uma das armas mais importantes para se mudar o mundo e como se sabe, nos dias de hoje, a universidade tem sido cada vez mais importante na vida das pessoas, pois é neste ambiente que o indivíduo tem uma das melhores possibilidades de se desenvolver de maneira plena e universal, e junto a isso, ascender cultural e socialmente.

       Para se ter uma ideia aproximada da realidade educacional da juventude brasileira: em 2010 segundo Cartilha Políticas Públicas de Juventude da Secretaria Nacional de Juventude - SNJ, de cada 15 jovens somente 05 conseguiam chegar ao ensino médio e apenas 01 ao ensino superior. Desses, 87% nunca tinham ido a um Teatro ou a um museu e 60% nunca tinham frequentado cinemas ou bibliotecas. Logo, no Brasil, estudar em vez de direito garantido, infelizmente, ainda é um privilégio. Principalmente, se você é pobre, preto, morador de periferia ou responsável por parte significativa do sustento da família. Situação essa que é vivenciada por grande parte dos jovens brasileiros como que diante disso, se desejarem um futuro melhor, devem adaptar-se a uma rotina de trabalhar e estudar ao mesmo tempo.
Porem,  isso não não significa dizer que esta por si só seria “formula magica para o sucesso”.


"Esse é o espelho derradeiro da realidade Não é areia, conversa, xaveco
 Porque o sonho de vários na quebrada é abrir um boteco
 Ser empresário não dá, estudar nem pensar  
Tem que trampar ou ripar pra os irmãos sustentar
Ser criminoso aqui é bem mais prático (...)  
Será instinto ou consciência Viver entre o sonho e a merda da sobrevivência."
                                   (Racionais MC's: A Vida É Um Desafio)

         Em 2014, por exemplo, a maior e certamente uma das mais importantes universidades públicas do país, a Universidade de São Paulo – USP completa 80 anos de história. Mas quantos jovens pobres, pretos ou indígenas puderam ocupar suas fileiras até agora? No vestibular da USP, que até hoje não adotou a políticas de Cotas, em 2013 nas três carreiras mais concorridas: os cursos de medicina, engenharia civil em São Carlos e publicidade e propaganda, não tiveram alunos pretos matriculados. No 1° ano se matricularam 369 alunos, segundo a Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular). Desses, a esmagadora maioria 78,3% se declararam brancos, 9,5% são pardos e 11,9%, amarelos Portanto, em 2013 a USP não teve candidatos pretos  em seu cursos mais concorridos.
                           
         Entretanto, não é no mínimo estranho que grande parte dos médicos do país se formou com dinheiro público, mas que pouquíssimos deles se quer pisaram em um hospital da rede pública a não ser para um estágio, muitas vezes contra sua vontade? Ou seja, não seria interessante que pessoas que só tiveram o SUS como opção durante a vida toda pudessem se tornar profissionais nos hospitais públicos que acolhem pessoas da mesma origem social que elas? (Leia mais aqui ou aqui).

         Sobretudo, antes de pensarmos em exceções como Milton Santos, importante intelectual negro e ex-aluno da USP, ou Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal - STF. É preciso pensar a universidade pública como um espaço público de fato e estratégico para redução de desigualdades sociais. Digo, é preciso nos mobilizar contra as exceções. Estudantes pobres, indígenas e negros devem ser a regra nas universidades  brasileiras.


 
(Formandos do curso de Medicina da UFBA, 2011).


     Mas a questão é: quem ganha com a democratização do acesso a universidade com aumento de jovens pobres, negros e indígenas nas universidades públicas? Bem, antes de tudo é preciso considerar que a produção de conhecimento não pode meramente excluir possibilidades, com isso digo: que não se pode desconsiderar os distintos olhares as diferentes e ricas formas de pensar o mundo dos diferentes perfis de estudantes.

       Em seguida é preciso entender o espaço público como um lugar especifico em que todos devem ter acesso e representatividade. Que a principal universidade do mundo Harvard reconhece a importância da diversidade no espaço universitário, e mais do que isso, a recomenda para uma experiência educacional realmente universal. E por fim que pela diversidade, pela representatividade, pela inclusão social e justiça social não deixemos de lutar por uma universidade pública cada vez mais popular.



    Que a regra das universidades brasileiras sejam o compromisso com o ensino de qualidade e com a inclusão social para que possamos conhecer cada vez mais histórias como a de Neemias Andrade, pintor, pai de família, morador de periferia e agora estudante de engenharia. Conheça sua emocionante história clicando aqui

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A descoberta do insólito: Literatura Negra


O Doutor Mário Augusto Medeiros da Silva estudou escritores brasileiros que se auto referenciam como negros ou periféricos, destacando o período entre a década de 60 e 2000. Mário aborda o processo produtivo desses escritores, as dificuldades de publicação e as possíveis relações com movimentos sociais.
 
                           

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Programa Acadêmico do Governo levará jovens negros e indígenas para estudarem em universidades no exterior

Iniciativa é uma conquista para o Movimento Negro, que a reivindicou para a presidenta Dilma Rousseff em reunião no mês de julho de 2013. Nome do programa presta homenagem ao político e ativista social Abdias Nascimento, que morreu em 2011, aos 97 anos, e marcou sua trajetória pela luta em defesa da cultura e da igualdade para afrodescendentes

                                      No documento protocolado no Palácio do Planalto, o movimento pedia a criação
                               de cotas em programas de bolsas para estudantes negros na graduação e na pós-graduação.

O Governo federal lançou em janeiro o Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento. Segundo portaria publicada pelo Ministério da Educação (MEC) no Diário Oficial da União, o objetivo da iniciativa é proporcionar a formação e capacitação de estudantes negros, pardos, indígenas e estudantes com deficiência para estudar no Brasil e no exterior em instituições de excelência em educação profissional e tecnológica e centros de pesquisa. A ação beneficiará ainda estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades, com elevada qualificação em universidades.

Para a Diretora de Programas da SEPPIR, Mônica Oliveira, o Programa Acadêmico Abdias Nascimento é importante iniciativa do Governo e uma conquista para o Movimento Negro (MN), que o reivindicou diretamente à presidenta Dilma Rousseff, durante reunião no Palácio do Planalto, em julho do ano passado. Cerca de vinte representantes dos diversos segmentos do MN participaram do encontro, que contou com a presença da Ministra Luiza Bairros (Igualdade Racial), do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), órgãos da Presidência da República, e do então ministro da Educação, Aloizio Mercadante, entre outros membros do governo.

Segundo ressaltou na ocasião Ana Flávia Magalhães Pinto, do Coletivo Pretas Candangas e da Campanha a Cor da Marcha, as diretrizes para a criação do programa estavam na carta protocolada no Palácio do Planalto pelo Movimento Negro. No documento, o movimento pedia a criação de cotas em programas de bolsas para estudantes negros na graduação e na pós-graduação e o estabelecimento de uma ação afirmativa pelo fortalecimento da inserção de estudantes no Ciência Sem Fronteiras.

Diálogo
Na semana seguinte à reunião com Dilma, seguiram-se outros dois encontros de trabalho, envolvendo representantes do MEC, MN e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Na ocasião, a titular da Secadi - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, Macaé Evaristo, entre outros técnicos da pasta, apresentaram iniciativas para o ensino técnico; ações afirmativas do governo, como o Programa Universidade para Todos (ProUni); e a política de cotas nas universidades públicas. Também foi discutida a implementação da Lei nº 10.639/2003, que modifica a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tornando obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas de todo o país.

A terceira reunião aconteceu nos dias 28 e 29 de agosto com uma extensa pauta e grande concorrência de participantes do governo, MN e comunidade internacional. Entre os temas levados às mesas de discussão estavam a adoção do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento, em que parte das bolsas de estudo previstas no acordo de cooperação será oferecida pelo programa Ciência sem Fronteiras.

Intercâmbio

De acordo com o MEC, são 105 faculdades e universidades historicamente negras nos Estados Unidos (EUA) - Historically Black Colleges and Universities – HBCUs - que vieram ao Brasil para uma visita de dez dias a universidades e escolas técnicas brasileiras em busca de acordos de intercâmbio acadêmico.

Nesse sentido, David Raimundo Santos, da Educafro - Educação para Afro-descendentes e Carentes, o Frei Davi, falou sobre a importância da reunião com a presidenta Dilma e o fato de o MEC ter recebido e se reunido com o MN, indicando que os outros ministérios necessitam também receber a representação do movimento negro.

As HBCUs receberam aproximadamente 500 alunos/as brasileiros no ano passado para estudarem durante um ano nos EUA. O Chefe da comitiva e diretor da Casa Branca para Faculdades e Universidades Historicamente Negras, Meldon Hollis, explicou que a meta do acordo é levar cerca de mil alunos/as este ano para estudar nas HBCUs pelo programa Ciência sem Fronteiras, além de expandir acordos bilaterais entre as universidades dos dois países.

O Programa
O Programa Abdias Nascimento é complementar às atividades de cooperação internacional e de concessão de bolsas no país e no exterior, já desenvolvidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes que, junto com a Secretaria de Alfabetização Continuada, Diversidade e Inclusão (Secadi) responde pela coordenação da iniciativa.

O objetivo do Programa é oferecer oportunidade aos estudantes e ampliar sua participação em novas experiências educacionais e profissionais voltadas à educação, à competitividade e à inovação em áreas prioritárias para a promoção da igualdade racial, o combate ao racismo, o estudo e valorização das especificidades socioculturais e linguísticas dos povos indígenas, a acessibilidade e inclusão no Brasil, e a difusão do conhecimento da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.

Fonte: Coordenação de Comunicação da SEPPIR